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Hipocrisia – homenagem a Otalina Aleixo, vereadora que se dedicou a tornar menos dura a vida das prostitutas

O Rosa de Maio, lembro muito bem, era no meio da selva, à beira de um igarapé e um ambiente selvagem, com muitas luzes coloridas. Um cenário bem tropical similar aos ambientes vietnamitas apresentados nos filmes americanos no período daquela

Hipocrisia - homenagem a Otalina Aleixo, vereadora que se dedicou a tornar menos dura a vida das prostitutas

Saudosos puteiros. Suas funcionarias eram visíveis, tinham endereço , cara e preço. E se expunham. Hoje o puteiro se esconde, às vezes, no celular de uma falsa donzela.

*Por Francisco Praciano –  Muito bom o texto de Raimundo Alves em “Lupanares e Puteiros”.

O texto me ativou saudades. Desci no Aeroporto de Ponta Pelada e meu amor a Manaus foi no primeiro pingo de suor, no instante seguinte à descida da escada, à primeira visão da cidade.

Cheguei em Manaus em Janeiro de 1973. Alcancei alguns desses rendez-vous, que de francês nada tinham. Eram puteiros mesmo.  Iracema, Saramandaia, La Hoje, Rosa de Maio, Veronica, Chica…Estavam mais pra Vietnam do que pra França.

O Rosa de Maio, lembro muito bem, era no meio da selva, à beira de um igarapé e um ambiente selvagem, com muitas luzes coloridas. Um cenário bem tropical similar aos ambientes vietnamitas apresentados nos filmes americanos no período daquela vergonhosa guerra.

Eu era liso e estudante. Algumas vezes visitava os puteiros patrocinado por alguns amigos menos liso do que eu. Ia pra olhar o movimento e às vezes pra dançar, salvo quando as donzelas se engraçavam de mim e me queriam por amor. Elas diziam que eu era bonitinho. Às vezes rolava um amorzinho de graça ou do tipo Black Friday ou uma troca de endereços pra receber ou ganhar umas visitinha na minha República.

Morava numa República de Estudante do Seringal Mirim. Recebia visitas nos dias de folga das meninas e então era agraciado com os serviços de cama e mesa. Elas se sentiam em casa e num ambiente onde recebiam atenção e respeito de mim e dos companheiros de República.

Não raro elas levavam o peixe ou a carne. Era um banquete pra estudantes pouco endinheirado. Tudo fazíamos pra elas se sentirem em casa, num ambiente nada parecido com seus ambientes de trabalho. Algumas viravam amigas e até abandonavam a atividade. Por trás de uma prostituta há sempre uma uma boa mulher ou uma boa mãe, um bom coração, uma mulher pronta pra mudar de vida.

Saudosos puteiros. Suas funcionarias eram visíveis, tinham endereço , cara e preço. E se expunham. Hoje o puteiro se esconde, às vezes, no celular de uma falsa donzela.

Tempos tristes, os de ontem. Tempos tristes e hipócritas , os de hoje.

(Homenagem a  Otalina Aleixo, vereadora que se dedicou a tornar menos dura a vida das prostitutas)

*Francisco Praciano é economista e ex-deputado federal