O doleiro Alberto Youssef, símbolo da Lava Jato, bancou parte das campanhas políticas do senador paranaense Álvaro Dias (Podemos-PR), principal aliado do ex-juiz Sergio Moro, declarado suspeito pela suprema corte brasileira e responsável pela destruição de 4,4 milhões de empregos, segundo o Dieese. É que revela reportagem de Felipe Bachtold e Vinicius Konchinski, publicada nesta quarta-feira, na Folha de S. Paulo.
“O operador financeiro Alberto Youssef, pivô da Lava Jato, financiou uma das campanhas eleitorais do agora maior aliado político de Sergio Moro, juiz símbolo da operação. Duas empresas de Youssef em 1998 pagaram R$ 21 mil (o equivalente a R$ 88 mil em valores atualizados) à campanha a senador de Alvaro Dias, hoje no Podemos e à época no PSDB. As informações estão na prestação de contas de Dias entregue naquele ano à Justiça Eleitoral no Paraná. As doações se referem a horas de voo em jatinhos que Youssef cedeu ao então candidato”, informam os jornalistas.
Ao que tudo indica, Moro já tinha essas informações durante a Lava Jato e blindou Alvaro Dias, uma vez que ambos já eram aliados políticos naquele período. Hoje, os dois estão no mesmo partido e os pagamentos que a consultoria estadunidense Alvarez & Marsal fez a Moro serão investigados pelo Tribunal de Contas da União. Isso porque a empresa lucrou com a quebra de grandes construtoras brasileiras e depois bancou Moro nos Estados Unidos – o que aponta possível conflito de interesses e corrupção numa prática conhecida como porta giratória. Saiba mais sobre o caso e apoie o documentário de Joaquim de Carvalho sobre o enriquecimento do ex-juiz suspeito Sergio Moro e do procurador Deltan Dallagnol.
Procurado pela reportagem da Folha, Alvaro Dias encaminhou documento do Ministério Público paranaense que afirma que, após diligências e depoimentos, procedimento relacionado a esse relato foi arquivado em 2004 por falta de provas. “O elo de sua campanha nos anos 1990 com Youssef tem sido resgatado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais. No último dia 12, o presidente, que disputa o eleitorado à direita com Moro, publicou vídeo de um apoiador que reproduz trecho do depoimento do doleiro à CPI”, informam ainda os repórteres.
Eles lembram ainda que, nos anos 2000, “o então juiz mandou prender o operador no âmbito do caso Banestado, um mega esquema de evasão de divisas por meio do extinto banco do estado do Paraná, hoje tido como um laboratório da Lava Jato e Deltan também atuou nos processos.” Os jornalistas também lembram que, “anos mais tarde, antes da Lava Jato, o magistrado chegou a se declarar suspeito ‘por razões de foro íntimo’ para atuar em um caso do doleiro que visava rediscutir a delação deste caso”.