Por Ademir Ramos (*) – A nomeação de Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, para o Consistório – o Colegiado maior – do pontificado do Papa Francisco é uma confissão da política do Vaticano quanto ao novo modo de ser Igreja no mundo a partir da Amazônia brasileira centrada na diversidade dos povos, culturas, saberes, fauna e flora, com ampla repercussão na prática pastoral redimensionada para o cuidado da vida, em suas diversas formas e grandezas vocacionada à civilização humana, bem como, o progresso da Igreja fundamentado na opção preferencial pela Amazônia com seu modo de ser e estar no planeta.
O Papa Francisco, em nomear e acolher o Cardeal Dom Leonardo Steiner entre o principado da Igreja, delegou a este servo de Cristo e do seu povo a trabalhar a unidade na diversidade, chamando para si a responsabilidade de promover um intenso diálogo com as Congregações Religiosos, que trabalham e vivem na Amazônia, a pensar e conceber sua prática pastoral não mais como missão neocolonial reducionista, mas sobretudo, como bem determina a Constituição Pastoral Gaudium et Spes (A Igreja no Mundo de Hoje) a respeito dos estudos e descobertas mais recentes das ciências, da história e da filosófica a despertar problemas novos que acarretam consequência para a vida e exigem da Igreja como um corpo vivo novas investigações.
Além disso, a Constituição do Vaticano II, exige que “os teólogos, observados os métodos próprios e as exigências da ciência teológica, são convidados sem cessar a descobrir a maneira mais adaptativa de comunicar a doutrina aos homens do seu tempo, porque uma coisa é o próprio depósito da Fé ou a as verdades e outra é o modo de enuncia-las conservando-se contudo o mesmo significado e a mesma sentença.”
Eis a chave a ser virada, o “modo de enuncia-lo” compreendido também como prática pastoral às vezes descontextualizada, autoritária ou como queiram, reduzindo os diferentes à imagem e semelhança do ordinário. Os desafios não muitos, contudo, a ordem social e o seu progresso, segundo a Constituição do Vaticano II em pauta, devem ordenar-se incessantemente ao bem das pessoas, “pois a organização das coisas deve subordinar-se à ordem das pessoas e não ao contrário”.
A opção pela Amazônia do Papa Francisco, credenciando o Arcebispo de Manaus, capital do Amazonas, é sem dúvida um ato revolucionário a exigir dos doutores da Igreja novas plataformas da ciência teológica e pastoral encarnando a Amazônia como espaço de fé, vida e esperança para o Brasil e o Planeta sob à ordem das pessoas e não mais do mercado e do grande capital.
(*) É professor, antropólogo da UFAM, um dos fundadores do CIM/Norte I e um dos primeiros alunos formados pelo CENESC.