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Amazonas: da Província Imperial à República do desalento

Com o Ciclo da Borracha, a iniciar ainda no Império e se prolongar até a primeira guerra mundial sob a ordem Republicana, as elites do Barracão ostentavam poder, arrogância e glória.

Amazonas: da Província Imperial à República do desalento

Ademir Ramos (*)  – A elevação à categoria de Província faz do Amazonas em tese um Estado independente da Província do Pará. Senhor dos seus tributos, capaz de governar, de fazer novas escolhas quanto à gestão das políticas públicas em benefício da gente que vivia e trabalhava nestas paragens.

Ledo engano, as oligarquias paraenses continuavam a mandar nestas terras dos Manaós. Explorando o máximo, o comércio dos regatões somado com o trabalho dos tapuios e o domínio da política de governo.

Com o Ciclo da Borracha, a iniciar ainda no Império e se prolongar até a primeira guerra mundial sob a ordem Republicana, as elites do Barracão ostentavam poder, arrogância e glória. Mas tudo não passou de uma baforada do charuto soprada no Salão Nobre do Teatro Amazonas animada pelas Polacas contratas para alegrar o baronato da borracha que torravam dinheiro enquanto os seringueiros nordestinos sofriam no tronco do Barracão dores, doenças e mortes.

A partir da década de trinta, com o intervencionismo do Getúlio Vargas, as elites políticas do Amazonas se mobilizaram para obter uma fatia do bolo da República Nova. Mas, não prosperaram porque o taco do Getúlio era de ferro e fogo, sobretudo, no pico do Estado Novo com perseguição e morte.

A crise se agudiza mais ainda com a segunda guerra mundial e literalmente voltamos a ser terra de ninguém regrada por interesses estrangeiros e de aventureiros que encontram por aqui presa fácil para suas façanhas rentistas e voluptuosas.

A invenção da Zona Franca de Manaus, a partir de 1967, como polo de produção articulado com o capital internacional mais uma vez veio para fortalecer a economia neocolonial centrada na exploração do trabalho dos homens e mulheres da capital, do interior e de outras lugares do norte e nordeste.

Esta tem sido a nossa saga. Crescer sob o mandonismo do Pará, do intervencionismo do getulismo e sob a regra do grande capital, sobrando para nossa gente, a humilhação, o descaso e o desalento do desemprego e da fome vivido no tempo da Varíola, do Coronavírus com omissão e crime do desgoverno, sob a ordem dos mandatários a exaltar muito mais a prática do populismo como regra de esquerda ou direita para as benesses nas urnas de suas lideranças políticas de mediana inteligência marcadas pela boçalidade, estupidez e ignorância doentia contagiosa tanto quanto à pandemia que ameaça a todos.

Deste pesadelo tentamos acordar meio porre de tantas promessas motivados pela resistência dos Indígenas, Cabanos e dos Movimentos Sociais que resistiram contra os invasores no passado e presente, guiando-se pelos ideais, sonhos e projetos de um Amazonas altivo e soberano, longe, bem longe das patas dos invasores e oportunistas que criam fantasmas para intimidar, dividir e dominar a nossa gente.

No entanto, nossa vontade é muito maior com determinação e coragem para vencer nas ruas e praças, nas urnas e no parlamento capazes de sustentar escolhas inteligentes a fazer do Amazonas e do Brasil um País solidário, justo e próspero com pão, terra e trabalho para todos.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM vinculado ao Departamento de Ciências Sociais da UFAM