Abrigada debaixo de uma árvore, esta mãe, mulher e trabalhadora ganha a vida vendendo água gelada num calor escaldante na capital do Amazonas.
Ademir Ramos (*) – O gesto é de uma grandeza singular. Mas, assustador é o embrutecimento dos governantes.
Um dos meus camaradinhas das redes sociais compartilhou este flagrante digno de atenção e aplauso. Trata-se de uma mãe trabalhadora que desempregada e abandonada socialmente foi às ruas, no bairro do Japiim, zona sul de Manaus, em busca do seu ganha pão para alimentar sua família com dignidade e responsabilidade maternal.
Possivelmente, não tendo com quem deixar seus filhos, arrebata sua cria para as ruas com dever de proteção e cuidado. Abrigada debaixo de uma árvore, esta mãe, mulher e trabalhadora ganha a vida vendendo água gelada num calor escaldante na capital do Amazonas.
Sua determinação e coragem é exemplar e denuncia a perversa desigualdade social que nos fere e machuca, exigindo do Estado e de seus governantes responsáveis políticas públicas que incentivem trabalho, emprego e renda como forma de combater a fome e o desalento social da nossa gente.
Debaixo da árvore no canteiro central da rua esta mãe, digna do nosso respeito, valendo-se de caixotes de feira construiu uma escrivaninha, em atenção aos seus dois filhos de 6 a 8 anos, aproximadamente, e enquanto trabalha as crianças fazem os exercícios escolares ou quem sabe as lições que a própria mãe tenha feito.
O gesto é de uma grandeza singular. Mas, assustador é o embrutecimento dos governantes, políticos e agentes públicos que tem o dever de cumprir os termos da lei com políticas protecionistas que promovam a sustentabilidade e o bem-estar social das crianças e suas famílias, em não fazendo, estes políticos viciados tornam-se omissos e inconsequentes devendo ser reprovados pelo seu povo nas urnas.
O flagrante denuncia a irresponsabilidade da política governamental quanto à falta de emprego e renda, bem como a exclusão destas crianças da escola em tempo integral a se fazer necessária para o desenvolvimento destes brasileirinhos que precisam e gritam por proteção do Estado, como também milhares de famílias trabalhadoras desassistidas que vivem sem proteção e segurança nas ruas, vielas e comunidades do nosso Amazonas.
(*) É professor, coordenador do Projeto Jaraqui e do NCPAM do Departamento de Ciências Sociais da UFAM.
