O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), confirmou a nomeação da presidenta da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, para o comando do Ministério da Saúde. A escolha é um marco histórico, já que pela primeira vez a pasta será comandada por uma mulher.
Para Nísia Trindade, o simbolismo da nomeação não é novo. Na presidência da Fiocruz desde 2017, ela também foi a primeira mulher no cargo em 120 anos de história da Fundação.
A socióloga e cientista política é referência pela produção científica. Tem mais de 100 publicações entre artigos, livros e textos e participou de eventos no mundo todo. A atuação acadêmica extrapola os muros das universidades há décadas. Além da marca na produção de conhecimento, a nova ministra é reconhecida por atuar para ampliar os diálogos entre ciência e sociedade.
Nísia Trindade nasceu e foi criada na cidade do Rio de Janeiro. Inspirada em uma professora do ensino médio, decidiu cursar graduação em ciências sociais na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) no final da década de 1970.
Ainda na UERJ, ela fez mestrado em ciência política com a tese “O Movimento de Favelados do Rio de Janeiro: Políticas do Estado e Lutas Sociais”. O trabalho investiga as atuações de movimentos populares em comunidades cariocas entre as décadas de 1950 e 1970.
Em 1987, a nova ministra passou a integrar o quadro de pesquisadores e pesquisadoras da Casa de Oswaldo Cruz (COC). A partir daí, iniciou um período de forte atuação e luta pela saúde pública, permeada pelo contexto da redemocratização do país e da reforma sanitária.
Em texto de autoria própria, publicado pela Fiocruz, a pesquisadora afirma que o cenário foi primordial para estabelecer uma missão social ao grupo.
“Trata-se da ideia de que a pesquisa histórica sobre as ciências e a saúde é fundamental para a reflexão crítica sobre a sociedade brasileira. Muito me honra ter integrado a primeira geração de pesquisadores recrutados por Paulo Gadelha para a implementação desta criativa iniciativa institucional no âmbito de um instituto de pesquisa biomédica e de saúde pública.”
Nos anos seguintes, Nísia Trindade esteve à frente de quase vinte projetos institucionais que renderem e rendem frutos ao Brasil até hoje. Ocupou posições importantes para o desenvolvimento de pesquisas, fez parte da equipe que criou o reconhecido Museu da Vida e foi decisiva para projetos que intensificaram e consolidaram a abertura do conhecimento produzido pela Fiocruz para a população.
A gestão da escolhida de Lula na presidência da Fiocruz teve na pandemia da covid-19 um dos principais desafios. A instituição foi primordial para o desenvolvimento de respostas à emergência sanitária e para a produção de conhecimento sobre o coronavírus. Teve também papel fundamental na produção de vacinas e testes.
As ações diversificadas permitiram que a Fiocruz atuasse no desenvolvimento tecnológico, no atendimento a populações vulneráveis, na compilação e divulgação de dados, na formação virtual de profissionais e em diversos outros campos. Com isso, a Fundação se tornou um laboratório de referência para a OMS em covid-19 nas Américas.
Nesse período a pesquisadora foi responsável pela criação do Observatório Covid-19. A iniciativa foi responsável por parte importante da sistematização e divulgação de informações sobre o andamento da pandemia no Brasil.
Em janeiro do ano passado, a atuação de Nísia Trindade na presidência da Fiocruz levou a nova ministra a ser reconduzida ao cargo. Com 87% dos votos na eleição interna, ela chegou a outro marco e se tornou a primeira mulher a ser eleita duas vezes para estar à frente da histórica instituição.
Quem é Nísia Trindade
- A primeira mulher a se tornar presidente da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), cargo que ocupa desde 2017. Trindade liderou as ações do instituto no enfrentamento da pandemia de covid-19 no Brasil.
- Criou o Observatório Covid-19, rede transdisciplinar que realiza pesquisas e sistematiza dados epidemiológicos; monitora e divulga informações, para subsidiar políticas públicas, sobre a circulação do novo coronavírus e seus impactos sociais em diferentes regiões no Brasil.
- Coordenou todo o acordo de encomenda tecnológica na articulação com o Ministério da Saúde do Brasil, a Universidade de Oxford, a farmacêutica AstraZeneca e as unidades de produção locais.
- Foi diretora da Casa de Oswaldo Cruz, unidade da Fiocruz voltada para pesquisa e memória em ciências sociais, história e saúde entre 1998 e 2005.
- Sua produção acadêmica e de projetos são voltados à saúde pública. Se formou em Ciências Sociais pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) em 1980. Nove anos depois, concluiu mestrado em ciência política pelo atual Iesp (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, e em 1997 se tornou doutora em Sociologia.
- Ainda é autora de dezenas de artigos, livros e capítulos com reflexões sobre os dilemas da sociedade nacional.