De forma confusa, gaguejando e sem os arroubos autoritários das lives que protagonizou durante o governo, Jair Bolsonaro (PL) voltou às redes sociais na manhã desta sexta-feira (30) para fazer uma “prestação de contas” e comentar o “atual momento político brasileiro” exatos 60 dias após a derrota para Lula (PT) nas eleições presidenciais. O enredo patético, transmitido pelo Facebook do futuro ex-presidente, foi finalizado com um Bolsonaro aos prantos e gerou revolta e indignação nos apoiadores que seguiam pelo chat.
Bolsonaro repetiu antigas ladainhas, abrindo seu discurso falando novamente sobre a facada nas eleições de 2018 dada “por um filiado do PSOL”, e em seguida, com voz trêmula, reclamou da cobertura jornalística sobre os atos terroristas em Brasília no último dia 12, que classificou como “bolsonarista” o terrorista George Washington Oliveira, que instalou uma bomba próximo ao aeroporto de Brasília e, em depoimento, disse que agiu incitado pelo presidente.
Em seguida, ele condenou a ação, comparando ao assassinato do petista Marcelo Arruda por Jorge Guaranho, um apoiador seu em Foz do Iguaçu, no Paraná.
“Durante a campanha, aquela tragédia em Foz do Iguaçu, quando uma pessoa mata a outra, ‘bolsonarista’, né?”, reclamou. “Nada justifica o que aconteceu ali, como nada justifica o que aconteceu aqui em Brasília, essa tentativa de um ato terrorista. Nada justifica. O elemento foi pego, graças a Deus, não tem ideia se [ininteligível] cidadão. Agora massifica em cima do cara como bolsonarista o tempo todo”, diz reclamando que hoje “a imprensa aplaude quando alguém é preso”.
A declaração iniciou uma onda de indignação entre apoiadores no chat da transmissão que foi aumentando a medida que o presidente sinalizava que não iria apoiar o tão esperado – pelos extremistas – golpe de estado usando o artigo 142 da Constituição.
Reconhecimento da derrota
Naquela que considerou a “segunda parte da live”, Bolsonaro falou sobre as eleições presidenciais, reclamou do resultado dizendo que “o voto você vê pelas ruas”, mas enfim admitiu que foi derrotado nas urnas, mesmo se mostrando chateado e contrariado.
“As esperanças de vitória eram palpáveis. Veio o horário eleitoral e fomos massacrados com mentiras da outra parte, de que íamos acabar com o décimo terceiro. Acusações absurdas. Lá a questão das rádios também, de mais para um candidato e menos para outro. Tivemos também decisões da justiça eleitoral que ninguém conseguiu entender. Tive que deixar de fazer live em casa”, disse, referindo-se ao Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República.
Em tom mais ameno comparada aos chiliques que tinha em ataques ao Tribunal Superior Eleitoral, Bolsonaro apenas reclamou que “obviamente não foi uma eleição imparcial”.
“E tivemos, então, o resultado do segundo turno: 50,9% contra 40,1%. Se fosse duvidar da urna você está passível de responder processo”, disse afinando a voz. “É crime”.
“Tudo bem, não vamos duvidar das urnas aqui”, emendou, com olhar vazio. “O partido nosso entrou com petição para que fosse ajustado algumas coisas, tirando tudo e, em vez do TSE [ininteligível], no dia seguinte indeferiu, arquivou e deu uma multa de R$ 22 milhões”, clamou novamente.
Bolsonaro ainda justificou porque não iria tentar um golpe, provocando a ira dos apoiadores no chat.
“Qualquer medida de força gera uma reação. A gente tem que buscar o diálogo para resolver as coisas, não pode dar um soco na mesa e não se discute mais esse assunto”, afirmou, contrariando a postura que teve por toda a vida, quando chegou a dizer que a Ditadura matou pouco no Brasil.
Por fim, Bolsonaro caiu no choro e entrou em prantos, a ponto de silenciar a live quando afirmou que “deu a vida para o Brasil”.
“O Brasil não vai se acabar no ano que vem. Pode ter certeza disso”, afirmou em um chororô sem fim. “O bem vai vencer”, emendou engolindo o choro.
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