Após os depoimentos dos ex-comandantes do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes, e da Força Área Brasileira (FAB), tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Júnior, militares que teriam resistido a embarcar uma trama golpista voltaram a ser alvo de ataques nas redes sociais e também em comentários de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
À Polícia Federal, os dois ex-comandantes confirmaram reuniões para discutir uma minuta do golpe, o que corrobora a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Nas redes sociais, bolsonaristas voltaram a associar Freire Gomes e Baptista Junior à esquerda. Além deles, também são citados o general Hamilton Mourão (Republicanos-RS), senador e vice de Bolsonaro entre 2019 e 2022, e o general Gustavo Henrique Dutra, que estava à frente do Comando Militar do Planalto (CMP) e, portanto, responsável pela área onde foi formado o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército.
O grupo de militares que teria rejeitado uma trama golpista é chamado de “melancia”, apelido dado aos integrantes do Exército, cuja farda é verde, mas que por dentro seriam “vermelhos” em uma referência à esquerda.
Militares alinhados ao ex-presidente também falam em blindagem na investigação aos ex-comandantes, que prestaram depoimento na condição de testemunhas.
De acordo com a investigação, Freire Gomes e Baptista Junior não teriam aderido à proposta de golpe. Relatório da Polícia Federal aponta que por isso ambos foram alvo de uma ordem do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, para que fossem atacados nas redes.
De acordo com as investigações, Braga Netto conversa com Ailton Barros, capitão reformado do Exército, sobre a resistência de Freire Gomes concorda em oferecer a cabeça do então comandante do Exército: “Oferece a cabeça dele. Cagão”, diz.
Em outra mensagem, também de dezembro de 2022, Braga Netto envia mensagens para Ailton Barros orientando ataques ao tenente-brigadeiro Baptista Junior, a quem adjetivou de “traidor da pátria”. O general ainda determina que se fala elogio ao almirante de esquadra Almir Garnier, então comandante da Marinha.
Ainda segundo as investigações, Garnier teria concordado com um golpe de Estado e teria colocado suas tropas à disposição de Bolsonaro. Intimado a prestar depoimento, o ex-comandante da Marinha ficou em silêncio.