O ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), tenente-brigadeiro do ar Carlos Baptista Júnior, disse à Polícia Federal ter se tornado alvo de ataques após ter se recusado a ler uma minuta golpista apresentada pelo general Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa do governo de Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com o depoimento do militar, ao qual a CNN teve acesso, no dia 14 de dezembro de 2022, o general Paulo Sérgio convocou os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica para irem ao Ministério da Defesa.
O encontro ocorreu uma semana após a reunião no Palácio do Alvorada em que Bolsonaro teria consultado os chefes militares sobre uma “hipótese de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e outros instrumentos jurídicos como estado de defesa ou estado de sítio.”
Em seu gabinete, o então ministro Paulo Sérgio apresentou um documento aos comandantes dizendo ser “para conhecimento e revisão” dos três comandantes das Forças Armadas. Além de Baptista Júnior, estavam presentes o general Marco Antonio Freire Gomes, do Exército, e o almirante Almir Garnier, da Marinha.
Em seu depoimento, Baptista Júnior disse ter questionado Paulo Sérgio se documento previa “a não assunção do cargo pelo novo presidente eleito.” Segundo ele, o ex-ministro ficou calado.
À PF, o ex-chefe da Aeronáutica contou ter entendido “que haveria uma ordem que impediria a posse do novo governo eleito”. Ele relatou ainda ter dito ao então ministro da Defesa que “não admitiria sequer receber o documento.”
Baptista Júnior acrescentou que o general Freire Gomes também não teria concordado com a possibilidade de analisar o documento.
Após isso, o ex-comandante da FAB disse ter saído da sala. No depoimento, ele afirmou que o então comandante da Marinha, Almir Garnier, não expressou reação.
Baptista Junior e Freire Gomes afirmaram também que rechaçaram qualquer possibilidade de golpe, mas que Garnier teria colocado a tropa da Marinha à disposição de Bolsonaro.
“Inferniza a vida dele”
Foi após a reunião no Ministério da Defesa que Baptista Júnior disse ter passado a ser alvo de ataques nas redes sociais por parte de apoiadores do ex-presidente. O militar passou a ser chamado de “melancia”, uma alcunha aos militares supostamente de esquerda, e de “traidor da pátria.”
Relatório da Polícia Federal aponta que partiu do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice na chapa de Bolsonaro, a ordem para um ataque virtual a Baptista Júnior e ao general Freire Gomes por terem resistindo a um plano golpista.
A ofensa ao então comandante da FAB foi feita em uma troca de mensagens de Braga Netto com o militar da reserva Ailton Gonçalves Moraes Barros em 15 de dezembro de 2022. Ou seja, um dia após a reunião no Ministérios a Defesa.
“Senta o pau no Batista Junior [sic]. Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feita [sic] e ele fechado nas mordomias. Negociando favores. Traidor da pátria. Daí para frente. Inferniza a vida dele e da família. Elogia o Garnier e fode o BJ”, escreveu Braga Netto a Ailton Barros.
O vice de Bolsonaro nas eleições de Bolsonaro também teria enviado mensagens a Barros criticando Freire Gomes por não aderir ao plano. A conversa por WhatsApp, segundo dados da investigação, ocorreu no dia 14 de dezembro de 2022, no mesmo dia da reunião do Ministério da Defesa.
“Meu amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do general Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente”, diz Braga Netto em mensagem anexada em relatório da PF.
Ailton Barros replica: “Então vamos continuar na pressão e se isso se confirmar, vamos oferecer a cabeça dele aos leões”. E Braga Netto diz: “Oferece a cabeça dele. Cagão”.
No dia seguinte, o general prossegue em conversa com Ailton Barros: “Se FG tiver (sic) fora mesmo. Será devidamente implodido e conhecerá o inferno astral.”
Como mostrou a CNN, a aliados Braga Netto tem dito a interlocutores que suas mensagens, algumas delas usando palavras de baixo calão, eram apenas uma cobrança para que comandantes das Forças Armadas agissem e dessem uma resposta à pressão bolsonarista no fim do governo.