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Legalização da maconha, aborto e casamento LGBT: Mujica liderou agenda progressista

Em 2014, já no fim do governo Mujica, o Uruguai também se tornou o primeiro país do mundo a legalizar e regulamentar todas as etapas do mercado da maconha, do cultivo à venda em farmácias, por meio de um decreto

Legalização da maconha, aborto e casamento LGBT: Mujica liderou agenda progressista

Mujica, que morreu aos 89 anos nesta terça-feira (13), teve um governo marcado por uma agenda progressista inédita na América Latina.

O ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, que morreu aos 89 anos nesta terça-feira (13), teve um governo marcado por uma agenda progressista inédita na América Latina.

Durante o governo Mujica, o Uruguai se tornou o primeiro país sul-americano a legalizar o aborto e a regulamentar o mercado da maconha, além de ser o segundo do continente a aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Em outubro de 2012, o país descriminalizou o aborto até a 12ª semana de gestação, com a aprovação de uma lei que garantiu o acesso ao procedimento em hospitais públicos. A medida colocou o Uruguai à frente de vizinhos da região em um tema ainda tabu em boa parte do continente.

Poucos meses depois, em abril de 2013, o Parlamento uruguaio aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, tornando o país o segundo da América Latina a adotar a medida — atrás apenas da Argentina, que havia aprovado a união homoafetiva em 2010.

Em 2014, já no fim do governo Mujica, o Uruguai também se tornou o primeiro país do mundo a legalizar e regulamentar todas as etapas do mercado da maconha, do cultivo à venda em farmácias, por meio de um decreto presidencial.

As três ações posicionaram o Uruguai como uma referência internacional em políticas sociais progressistas e consolidaram a imagem de Mujica como um dos líderes mais inovadores da região.

A morte de Mujica foi confirmada pelo atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi, visto como um dos herdeiros de Mujica.

“É com profundo pesar que anunciamos o falecimento do nosso colega Pepe Mujica. Presidente, ativista, líder e líder. Sentiremos muita falta de você, querido velho. Obrigado por tudo o que você nos deu e pelo seu profundo amor pelo seu povo”, escreveu Orsi.
Em abril de 2024, Mujica anunciou que estava com um tumor no estômago, com o órgão “muito comprometido”. Ele também afirmou que seu quadro de saúde era “duplamente complexo”, já que sofria de uma doença imunológica há mais de 20 anos que havia afetado os rins.

Biografia
Mujica foi ícone pop da esquerda e referência de vida simples; conheça trajetória

José Alberto Mujica Cordano nasceu em Montevidéu, em 20 de maio de 1935. Nos anos 1960, tornou-se membro da guerrilha Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros. O grupo se notabilizou, antes da instalação da ditadura militar uruguaia, em 1973, por assaltar bancos e distribuir comida e dinheiro roubado aos pobres.

Durante sua atuação na clandestinidade, Mujica foi ferido quatro vezes em confrontos com forças policiais. Escapou duas vezes da prisão até ser recapturado definitivamente, em 1972.

Seu período na prisão ao longo da ditadura foi marcado por torturas e condições precárias, sendo mantido por longos períodos na solitária.

Ele era um dos presos considerados “sequestrados” pelo regime — e seria executado sumariamente caso os Tupamaros retomassem as atividades de guerrilha. Ao todo, passou 14 anos de sua vida atrás das grades.

Em 1985, Mujica foi libertado após a promulgação de um decreto de anistia. Entrou para a política institucional, ajudou a fundar o partido de esquerda Movimento de Participação Popular (MPP) e foi eleito deputado em 1994.

Cinco anos depois, chegou ao Senado e, em 2005, com a chegada à Presidência de seu correligionário Tabaré Vázquez (1940–2020), foi nomeado ministro da Agricultura.

Presidência

Mujica foi eleito sucessor de Vázquez e assumiu a Presidência em 2010, governando até 2015. Em sua gestão, o gasto social saltou de 60,9% para 75,5% do total do gasto público.

Em conformidade com sua visão política, o salário mínimo teve um aumento de 250%. Em 2012, ele propôs a legalização do consumo e da venda da maconha, que acabou se concretizando no país.

Ao lado da mulher, Lucía Topolansky, Mujica chamou atenção como um chefe de Estado de vida simples: morava em um sítio nos arredores da capital e dirigia diariamente seu próprio Fusca, ano 1987, até a sede do Executivo, na Praça Independência.

Após deixar a Presidência, voltou ao Senado, cargo que ocupou até 2020, quando renunciou por motivos de saúde, em meio à pandemia de Covid-19.

Mujica passou os últimos anos de sua vida cuidando de sua horta. Acredita-se que doava 90% do salário como ex-presidente para projetos de combate à pobreza.

Durante a maior parte da vida, declarou-se ateu. Em uma entrevista de 2012, sintetizou sua crença: “Não tenho religião, mas sou quase panteísta: admiro a natureza”.