Pouco importava se as manifestações de rua contra o governo federal fossem grandes ou pequenas, pois elas seriam tratadas da mesma forma pelos devotos do presidente Jair Bolsonaro. Em um mês, foram duas, a segunda bem maior do que a primeira.
O tom da reação da direita à voz das ruas foi dado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), o Zero Dois, responsável pela comunicação do pai nas redes sociais. E ele escreveu que tudo não passou de mais um ato da esquerda a serviço de Lula.
As manifestações pediram três coisas: mais vacinas, reajuste no valor do auxílio emergencial pago aos brasileiros mais pobres, e o impeachment de Bolsonaro. Elas ocorreram no dia em que o número de mortos pela Covid bateu a triste marca de 500 mil.
“Você não pode vender pastel na rua, mas eles podem sair pra defender ex-presidiário. Entendam: nunca foi por ciência ou saúde! É por poder! Aglomerar hoje não é genocídio. A partir de amanhã volta a ser”.
O regime autoritário que o pai do vereador tenta implantar no país ainda carece de força para proibir manifestações populares de qualquer origem política. Foi às ruas em todas as capitais brasileiras quem quis ir – entre eles, muitos ex-bolsonaristas.
Bolsonaro não usa máscara e tem horror a quem usa. Bolsonaro provoca aglomerações e receita cloroquina que não mata o vírus e deixa sequelas. Bolsonaro prega o desrespeito a medidas de isolamento social e aconselha todo mundo a circular.
O ministro Fábio Faria (PSD-RN), ministro das Comunicações e genro do apresentador de televisão Silvio Santos, sentiu-se liberado por seu chefe direto para percorrer o caminho aberto por Carlos. Então postou no Twitter:
“Em breve vocês verão políticos, artistas e jornalistas ‘lamentando’ o número de 500 mil mortos. Nunca os verão comemorar os 86 milhões de doses aplicadas ou os 18 milhões de curados, porque o tom é sempre o do ‘quanto pior, melhor’. Infelizmente, eles torcem pelo vírus”.