Um grupo de artistas, intelectuais e políticos brasileiros redigiu uma carta endereçada ao presidente Lula (PT) solicitando a interrupção imediata da importação de armas de Israel. A Anistia Internacional e o coletivo Vozes Judaicas por Libertação pediram ao Gabinete da Presidência uma reunião com Lula para poder entregar o documento em mãos.
Segundo a Folha de S. Paulo, entre os signatários da carta estão o cantor e compositor Chico Buarque e sua esposa, a advogada Carol Proner, bem como os ex-ministros José Dirceu e Paulo Sérgio Pinheiro, o escritor Milton Hatoum, a cineasta Petra Costa e o rapper Emicida, além de acadêmicos e ativistas.
A mobilização também conta com o apoio de partidos políticos, como PCdoB, Psol, PSTU e UP, e de movimentos sociais, incluindo a Frente Povo Sem Medo, o Movimento Negro Unificado (MNU) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
No documento, os signatários defendem “a suspensão imediata de todos os acordos no âmbito da Defesa e das licenças de exportação e importação de equipamento militar mantidos com Israel e empresas israelenses”.
A mobilização acontece pouco após o Exército brasileiro escolher a empresa israelense Elbit Systems para fornecer 36 viaturas blindadas de obuseiro 155 mm, uma decisão considerada preocupante pelos signatários da carta. Na ocasião, a empresa manifestou que “acredita que a seleção do sistema Atmos representa um marco significativo na parceria com o Brasil, construída há décadas por meio das empresas AEL Sistemas e Ares Aeroespacial e Defesa. (…) Além disso, estima-se que serão gerados no Brasil entre 200 e 400 novos postos de trabalho diretos e de 400 a 700 indiretos.
Nos últimos 23 anos, o grupo investiu mais de 50 milhões de dólares e hoje conta com mais de 560 funcionários aqui no país”. Os signatários da carta argumentam que a Elbit é uma das principais fornecedoras de armamentos das Forças de Defesa de Israel, cujas exportações aumentaram durante os conflitos em Gaza.
Os apelos pela interrupção das importações de armas israelenses ganharam força diante das denúncias de organizações internacionais de direitos humanos sobre a política de apartheid adotada por Israel contra os palestinos. Nesse contexto, o documento exorta o governo brasileiro a agir em conformidade com o Direito Internacional e a promover os direitos humanos.
O texto da carta destaca a urgência de uma ação efetiva para deter a ofensiva em curso e mobilizar a comunidade internacional a tomar medidas coletivas contra as violações dos direitos humanos. Para os signatários, “o governo brasileiro deve tomar medidas concretas e imediatas no sentido de evitar a perpetuação das violações às normas imperativas de direito internacional por Israel, afastando-se de qualquer cooperação com tais violações”.
O envio do documento ocorre após Israel ter assumido o controle total da passagem de Rafah, último refúgio para mais da metade da população do território palestino. A interrupção do fluxo humanitário no local ocorreu dois dias depois do fechamento de Kerem Shalom, outra passagem no sul de Gaza. Segundo o Ministério da Saúde palestino, 34.844 palestinos morreram desde o início da guerra, em 7 de outubro, outros 78.404 foram feridas em sete meses de conflito.