Prestes a iniciar o internato no curso de medicina, o ex-cobrador de ônibus Gilberto Arruda Rodrigues, 47 anos, olha para trás e vê o quanto lutou para chegar à Universidade de Brasília (UnB). Tendo passado por experiências difíceis, como a perda dos pais e a quase paraplegia, ele pretende terminar a faculdade e mostrar que é possível dar a volta por cima.
Desde pequeno, o ex-cobrador se considera uma pessoa obstinada. Nascido em Ceilândia, Gilberto ficou órfão da mãe quando tinha 9 anos e, aos 18, teve de lidar com a morte do pai. Criado pela madrasta, utilizou o skate como uma maneira de não perder o foco na vida. “Restaram só minha madrasta, minha irmã e eu”, conta. Ele chegou a disputar alguns campeonatos na modalidade.
Já aos 19 anos, decidido a fazer faculdade de educação física, passou na prova para atuar como cobrador de ônibus. O intuito era juntar dinheiro para pagar o curso. “Trabalhei nessa função por 6 anos, mas o dinheiro era curto para conseguir custear os estudos. Foi quando decidi que precisaria virar motorista, ganhar mais, e aí poderia fazer o curso superior”, explica.
Antes de se tornar motorista, no entanto, Gilberto precisava passar um período como “manobreiro”, cuja função é estacionar e movimentar os ônibus na garagem. Em outubro de 2000, porém, enquanto estava no pátio, acabou sendo atropelado por um colega. “Pegou da minha cintura para baixo. Quebrou minha bacia, tive hemorragia interna. E tudo ocorreu comigo lúcido. Lembro que os bombeiros chegaram e me imobilizaram, depois fui para o hospital”, relata.
Em 2018, Gilberto passou na 3ª chamada. O começo, relembra, foi bastante difícil. “Eu chorava muito, pois tinha bastante dificuldade para entender algumas coisas básicas. Com a ajuda dos professores e de colegas, no entanto, consegui diminuir a defasagem que eu tinha de certas coisas.”
Atualmente, Gilberto está no 7º semestre e se sente grato por tudo o que conseguiu superar para estar tão perto de conseguir realizar o sonho. “Sempre acreditei que o conhecimento é um fator que nos ajuda. Ainda que a gente tenha qualquer dificuldade, é possível dar a volta por cima”, frisa.
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