Mensagens trocadas entre Sergio Moro — então juiz titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelos casos da autodenominada “lava jato” — e Deltan Dallagnol — à época coordenador da “operação” — revelam que a condução de processos relacionados a Lula foi combinada entre acusação e julgador.
As mensagens foram anexadas em petição endereçada ao STF, no âmbito da reclamação 43.007, em que a defesa do ex-presidente pediu inicialmente acesso integral ao material apreendido pela chamada operação “spoofing”. Os dados consistem em mensagens trocadas entre procuradores e juízes que participaram da “lava jato” e foram divulgadas pelo The Intercept Brasil na série de reportagens que ficou conhecida como “vaza jato”. O relator do caso, ministro Ricardo Lewandowski, deferiu o pedido, embora a defesa tenha tido dificuldade para ter acesso ao material.
Nesta quinta-feira (28/1), o ministro Ricardo Lewandowski decretou sigilo sobre a ação (reclamação 43.007), após pedido da defesa, que também anexou aos autos algumas mensagens analisadas por um perito judicial.
O site da Veja publicou alguns trechos dessas conversas. Os documentos revelados pela publicação mostram diálogos curtos entre o ex-juiz e o chefe da “lava jato”. Em uma das mensagens — de 16 de fevereiro de 2016 —, Moro pergunta se a denúncia contra Lula seria “sólida” o suficiente.
Em outra mensagem, Deltan pede sigilo absoluto acerca de uma reunião secreta com representantes suíços. O procurador também pede que Moro limite o depoimento do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, apenas aos fatos pelos quais ele é acusado, para que ele não amplie benefícios penais sem se tornar um delator.
O procurador também tenta agendar um horário com o então juiz Sergio Moro para falar com ele sobre “apreensão de celulares”.
Procurador e juiz também trocam confidências sobre a atuação da defesa do ex-presidente e as denúncias do advogado Rodrigo Tacla Durán de que um amigo de Moro lucraria intermediando acordos de delação premiada.
Moro também orienta o procurador sobre as informações obtidas pelos sistemas Droussy e Webday da Odebrecht. “Vcs (sic) vão ter que enviar isso a PF para fazer laudo pericial e depois produzir laudos específicos a cada acusação. Do contrário, vai ser difícil usar”, ensinou o então juiz.
Defendem o ex-presidente os advogados Cristiano Zanin, Valeska Martins, Maria de Lourdes Lopes e Eliakin Tatsuo.