“Foi um dia em que não era para eu ter saído de casa. Quem deveria me ajudar não me deu atenção. Um homem com jeito de trabalhador me apontou uma arma e me carregou para o matagal. Roubou meu celular. Com uma arma apontada para meu ouvido, me mandou tirar a roupa. Fui estuprada. Senti que estava em carne viva. Disse para eu ficar quieta, não olhar para trás e esperar. Sumiu no mato. Fui para a rua nua, desnorteada. Vi quatro PMs no caminho e pedi socorro. Primeiro, debocharam de mim. Me chamaram de maluca. Um deles perguntou: ‘Ô, garota, o que você está fazendo a essa hora nua na rua?’ Respondi que fui assaltada e estuprada, saindo para o trabalho. Um deles se compadeceu de mim e lamentou não ter uma camisa para me cobrir. O outro disse: ‘Só se der a farda para ela vestir’. Riu de mim.”
A cena narrada ao EXTRA pela contadora G., de 36 anos, vítima do estupro, a todo momento lhe vem à cabeça.
Foi no último dia 20, feriado da Consciência Negra, às 5h30, quando caminhava pela Avenida Almirante Aymara Xavier de Souza, em Bangu, Zona Oeste do Rio.
Ela estava quase na metade do caminho de casa até a Avenida Brasil, onde pegaria o ônibus para o trabalho. Não bastasse a violência que sofreu do estuprador, que chegou a lhe desejar “bom dia”, ela relatou ter sido vítima do descaso de policiais militares e civis no dia do crime.
Na delegacia, a 34ª DP (Bangu), não havia uma agente feminina para ouvi-la. E ela ainda bateu, em vão, na porta do IML de Campo Grande para fazer o exame de corpo de delito. Lá informaram que ela retornasse apenas na segunda-feira, porque não havia peritos no fim de semana.