A fase “muito doida”, relatada por Maria Zilda para alfinetar o “mau hálito” de Zé de Abreu durante as gravações da novela Bebê a Bordo (1988), não foi a única de loucuras entre os dois artistas globais.
Em Abreugrafia, sua autobiografia em dois tomos, que será lançada nesta quinta-feira (18) às 19h, na Livraria Travessa do Leblon, no Rio de Janeiro, Zé de Abreu narra uma “paixão doida” vivida com a atriz durante a filmagem de A Intrusa (1979), filme baseado na obra do escritor argentino Jorge Luís Borges, com música de Astor Piazzola e direção de Carlos Hugo Chirstensen.
“Transa?vamos no meio do nada na hora do almoc?o, comer para que?? Pegava o cavalo do personagem, a colocava na garupa e i?amos para baixo de uma a?rvore, longe dos olhares da equipe. Estendia meu poncho azul com forro vermelho na relva e nos ama?vamos como se a vida acabasse ali”, escreve Zé de Abreu.
Aproveitando o clima romântico-portenho, ao som de Piazzola, o ator diz que o tórrido romance durou até o final das gravações do filme, mas que teria deixado marcas na atriz.
“Levei-a ao aeroporto de Uruguaiana e, na despedida, choramos pacas. Na volta para o hotel, parei na estrada para ver o avião passar por mim e chorei, chorei, chorei. Quando cheguei no quarto, o telefone tocou. Era a Zilda me ligando de um orelhão no aeroporto de Porto Alegre, à espera do voo para o Rio. Foram horas ao telefone, rindo, chorando, ficando em silêncio para ouvir a respiração do outro“.
Além do lançamento no Rio de Janeiro, Abreugrafia terá uma noite de autógrafos em São Paulo, na livraria Travessa de Pinheiros, no próximo dia 22.
Quem não puder ir no lançamento já pode comprar em pré-venda os dois volumes de “Abreugrafia”.
O livro chega às lojas apenas alguns dias após a estreia de “Um Lugar ao Sol”, nova novela das nove da Globo, em que o ator interpreta Santiago, dono da rede de supermercados Redentor, pai de Bárbara (Alinne Moraes), Rebeca (Andrea Beltrão) e Nicole (Ana Baird).
O momento é especial por outro motivo também, pois o autor, que sempre militou politicamente, anunciou recentemente que vai se candidatar a deputado federal pelo PT do Rio de Janeiro.
Leia o trecho inédito da Abreugrafia, de Zé de Abreu
Em 31 de dezembro, por volta de oito da noite, Hugo ligou para o meu quarto me chamando para ir ao quarto da Maria Zilda, pois ele queria nos apresentar e conversar sobre o filme. Finalmente chegara a nossa protagonista. Depois, à meia-noite, abriríamos uns espumantes argentinos (estávamos na fronteira com Paso de los Libres) e comemoraríamos o Ano-Novo com toda a equipe. Fui.
A Zilda era linda. Logo nas apresentações ela me disse que estava inseguríssima, que o papel era dificílimo, que era seu primeiro papel grande e tal. Fui apresentado a ela como um excelente ator de teatro e fingi que era mesmo, e lhe disse que ela teria todo meu apoio, tanto para prepararmos juntos os personagens quanto para ensaiarmos as cenas. O personagem dela realmente era muito difícil, uma mulher que fora vendida pelos pais a um puteiro, é comprada pelos irmãos, vira comida de cama e mesa para eles e ainda é culpada pela separação dos dois. E com um detalhe: sem falas! Era tão submissa que não falava. Uma frase apenas, para que não pensassem que era muda: “Caiu do céu uma vez. Eu estava passando, peguei.” Uma referência a uma medalhinha que ela usava no pescoço.
À meia-noite todo mundo se abraçou, brindou, e ela, ajoelhada na cama, me cumprimentou. Nós nos abraçamos e abraçados ficamos. O tempo parou. Sentia o coração dela bater ainda mais forte que o meu. Não sei quanto tempo ficamos assim, mas quando saímos do abraço e olhei para seus olhos apaixonados, como os meus deviam estar, estava todo mundo tirando sarro: “desgruda”, “também quero”, coisa de pessoal de cinema. Desgrudamos, a festa continuou, depois o pessoal foi para outras festas menos profissionais e acabamos ficando sozinhos.
Ma-ra-vi-lha.
Começamos a filmar como namorados.
E entrei de cabeça, corpo e alma no romance com a Maria Zilda. Paixão doida, linda, enlouquecedora e rápida, como qualquer paixão que se preze.
Foi meu primeiro banho de Badedas, quem diria, num hotelzinho de Uruguaiana!
Passávamos 24 horas por dia dentro do filme, na locação (uma casa de pedra no meio do nada no pampa gaúcho), e no quarto dela (para onde eu havia me mudado no dia seguinte). Transávamos no meio do nada na hora do almoço, comer para quê? Pegava o cavalo do personagem, a colocava na garupa e íamos para baixo de uma árvore, longe dos olhares da equipe. Estendia meu poncho azul com forro vermelho na relva e nos amávamos como se a vida acabasse ali.
Até que o dia chegou e ela foi embora. Levei-a ao aeroporto de Uruguaiana e, na despedida, choramos pacas. Na volta para o hotel, parei na estrada para ver o avião passar por mim e chorei, chorei, chorei. Quando cheguei no quarto, o telefone tocou. Era a Zilda me ligando de um orelhão no aeroporto de Porto Alegre, à espera do voo para o Rio. Foram horas ao telefone, rindo, chorando, ficando em silêncio para ouvir a respiração do outro…