O Exército Brasileiro decidiu não punir o general e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello por sua participação em um ato ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Rio de Janeiro, no último dia 23 de maio. Em nota oficial divulgada nesta quinta-feira, a corporação afirmou que “não restou caracterizada a prática de transgressão disciplinar por parte do General Pazuello” e informou que arquivou o procedimento disciplinar que havia sido instaurado para avaliar se ele havia violado regramento interno das Forças Armadas. A normativa da entidade proíbe que militares da ativa participem de atos políticos.
A participação do militar no ato ocorreu dois dias após o ex-ministro prestar seu depoimento à CPI da Pandemia, em que foi duramente questionado por senadores e mentiu para blindar Bolsonaro da responsabilidade pela má gestão na pandemia. O evento casou aglomeração e reuniu apoiadores bolsonaristas em meio ao escalonamento da crise sanitária no país e do arrefecimento do clima político. Sem máscara, assim como Bolsonaro, Pazuello subiu ao palanque, discursou e chegou a ser elogiado pelo presidente. Pazuello havia voltado ao Exército depois de ter sido demitido do ministério por pressão do próprio Congresso. Na última terça-feira, ele foi nomeado oficialmente como secretário de Estudos Estratégicos da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
A decisão sobre a punição do ex-ministro ficou a cargo do comandante do Exército, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e tinha o potencial de gerar uma crise militar na gestão Bolsonaro. O presidente já havia deixado claro publicamente que não gostaria que Pazuello fosse punido, o que deixou o ministro da defesa, o general da reserva Walter Braga Netto, na delicada situação de ou desafiar o chefe ou reduzir sua própria estatura diante dos subordinado, o que colocou à prova a ala militar do país, que vê o maior escalonamento de sua influência desde a redemocratização. Ao comentar a decisão à noite, em transmissão ao vivo pelas redes sociais, o presidente afirmou que “ninguém interfere” nesse tipo de decisão do Exército e que é “muito comum” que militares não sejam punidos. “A decisão é do chefe imediato dele ou do comandante da unidade”, disse.
Na nota divulgada à imprensa, em que não apresenta maiores detalhes sobre a decisão, o Exército afirma que o comandante “analisou e acolheu os argumentos apresentados por escrito e sustentados pelo general” e que, desta forma, “não restou caracterizada a prática de transgressão disciplinar”. Em sua defesa, o ex-ministro da Saúde argumentou que o ato não era político-partidário porque Bolsonaro não é filiado a nenhum partido político e não há campanha em andamento no país. Também afirmou que foi convidado apenas para um evento com motociclistas e que a certa altura foi chamado pelo presidente para subir no carro de som.