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Moraes repreende Aldo Rebelo: ‘Se não se comportar, será preso por desacato’

"Não há conhecimento técnico para saber se a Marinha sozinha pode dar um golpe. Rebelo é historiador… ele sabe que em 64 não foi ouvida toda cadeia de comando. Não podemos fazer conjecturas. Ele foi civil. Foi ministro da Defesa,

Moraes repreende Aldo Rebelo: 'Se não se comportar, será preso por desacato'

"Se o senhor não se comportar, o senhor será preso por desacato"

O ministro Alexandre de Moraes repreendeu nesta sexta-feira (23) o ex-ministro e ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo, durante uma sessão do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Se o senhor não se comportar, o senhor será preso por desacato”, disse Moraes após resposta de Rebelo sobre o almirante Almir Garnier, ex-chefe da Marinha (leia abaixo).

Aldo Rebelo prestou depoimento ao STF como testemunha no processo em que o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados são acusados de tentar um golpe de Estado.

Ele foi indicado como testemunha pela defesa de Garnier, que é acusado de participar do plano golpista de Bolsonaro.

Ex-integrante do PCdoB, Partido Comunista do Brasil, Aldo Rebelo foi ministro da Defesa entre 2015 e 2016, no governo Dilma, e trabalhou com Garnier na época.

Garnier atuou, por dois anos e meio, como assessor especial militar do Ministério da Defesa. No período, serviu aos ministros Celso Amorim, Jaques Wagner, Aldo Rebelo e Raul Jungmann, todos no governo Dilma.

Durante o depoimento ao STF, Rebelo foi questionado pelo advogado do ex-comandante da Marinha se Garnier teria colocado tropas à disposição de Bolsonaro para levar adiante a tentativa de golpe.

O objetivo da pergunta era checar se, na opinião da testemunha, seria possível o comandante da Marinha mobilizar as tropas sozinho, por decisão unilateral. O advogado queria mostar que isso não era possível.

Aldo Rebelo rebateu. Ele ponderou que era preciso considerar o que significa uma “força de expressão” na língua portuguesa.

Isso porque, segundo Rebelo, Garnier ter dito que “estava à disposição” não significava literalmente que ele queria dar um golpe.

“É preciso levar em conta que na língua portuguesa nós conhecemos aquilo que se usa muitas vezes que é a força da expressão. A força da expressão nunca pode ser tomada literalmente. Quando alguém diz que ‘estou frito’ não significa que está dentro de uma frigideira, quando diz que ‘está apertado’ não significa que está submetido a uma pressão literal. Quando alguém diz estou à disposição, a expressão não precisa ser lida literalmente”, respondeu Rebelo.

A resposta irritou Moraes

“O senhor estava na reunião quando o almirante Garnier disse a expressão?”. O ex-ministro respondeu negativamente. “Então o senhor não tem condição de avaliar a língua portuguesa naquele momento. Atenha-se aos fatos”, respondeu o ministro.

Rebelo rebateu: “Em primeiro lugar, a minha apreciação da língua portuguesa é minha e eu não admito censura”.

Moraes: “Se o senhor não se comportar, o senhor será preso por desacato”.

Rebelo: “Estou me comportando”.

Moraes: “Então se comporte e responda à pergunta. Testemunha não pode dar seu valor à questão. Mas, tem toda a liberdade para fazer uma resposta tática”.

Após ser repreendido, Aldo negou a possibilidade de um comandante mobilizar as tropas por decisão própria.

Segundo ele, trata-se de uma cadeia de comando, que passa por diversas estruturas como o comando de operações de operações navais, comando da esquadra entre outros.

Moraes, então frisou que Rebelo não pode garantir uma resposta à questão.

“Não há conhecimento técnico para saber se a Marinha sozinha pode dar um golpe. Rebelo é historiador… ele sabe que em 64 não foi ouvida toda cadeia de comando. Não podemos fazer conjecturas. Ele foi civil. Foi ministro da Defesa, mas civil”, reforçou o ministro.

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) começou a ouvir nesta sexta-feira (23) as testemunhas de defesa dos réus Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e de Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, na ação que apura uma tentativa de golpe articulada pela cúpula do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Essa fase começou na segunda-feira (19) com testemunhas de acusação, escolhidas pela Procuradoria Geral da República (PGR).

Já foram ouvidos um diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o ex-comandante do Exército general Freire Gomes, o ex-comandante da Aeronáutica brigadeiro Baptista Júnior, entre outros.