Por Ademir Ramos (*) – Darcy Ribeiro é um indigenista indignado, militante político de esquerda que devotou sua vida, seus projetos e sua juventude combatendo aguerridamente em favor da democracia e por um Brasil justo e igualitário. Sua lealdade e solidariedade com os povos indígenas, negros e demais comunidades tradicionais tanto na Amazônia como nos sertões do Brasil vai além das nossas fronteiras espraiando-se por toda América Latina e demais continentes explorados.
O conhecimento desta causa resulta de variados ensinamentos que muito aprendeu com o Marechal Rondon, Anísio Teixeira, com Eduardo Galvão, Noel Nutels, Carlos Moreira Neto, entre tantos outros, em particular, com os próprios povos indígenas com quem conviveu Kadiwéu (1948, 1950, 1951), Terena, os Guakurú e os Ofaié-Xavante (1947 e 1948), Urubus-Kaapor (1955 e 1957) e genericamente os Tembé, Guajajara, Guajá e Timbira.
O professor Darcy Ribeiro esteve por diversas vezes no Amazonas e em quase todas as situações estávamos juntos e como ele falava como ninguém e nós por sua vez ávidos para aprender escutávamos e ouvíamos suas lições marcadas pelo saber maduro orientado pela crítica ácida temperada com muito humor e sarcasmo contra o patronato e o patriciado que dominava e domina a política nacional tal como o governo Bolsonaro reprovado nas urnas, acelerando a devastação criminosa contra a nossa Amazônia, a grilagem, o garimpo ilegal em Terras Indígenas, bem como também as frentes garimpeiras formatadas em centenas de balsas a fazer arrastão em pleno Rio Madeiro prospectando o fundo do rio na busca de ouro e outros cascalhos.
Conforme os ensinamentos do professor Eduardo Galvão, um dos amigos de Darcy Ribeiro, vivemos na Amazônia entre os Encantados dos Rios e os Espíritos das Florestas. Necessariamente temos o dever de interagir com estas forças significantes e se possível nos deixar seduzir por elas para compreendê-las na sua totalidade, não tenho dúvidas de que Darcy se deixou seduzir por tudo que fez pelos povos indígenas, pela política, educação e por um Brasil livre e soberano.
Darcy sempre presente, a celebração do seu centenário é oportuno para se repensar o Brasil numa perspectiva Democrática Igualitária, participativa, socialmente justa e soberana em defesa da nossa Amazônia articulado com os direitos dos povos originários marcados por sua diversidade cultural enquanto expressão efetiva do cumprimento constitucional.
(*) É antropólogo, indigenista e professor da Universidade Federal do Amazonas.