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Nelson Sargento morre no Rio aos 96 anos de covid

Nelson deixa a mulher, Evonete Belizario Mattos. Além de tirar a vida do sambista, a COVID-19 impôs duros sacrifícios financeiros a ele, impedido de fazer shows.

Nelson Sargento morre no Rio aos 96 anos de covid

Compositor respeitado, o padrasto introduziu o talentoso enteado no universo da batucada. “Comecei em 1948 com o meu primeiro samba-enredo, 'Vale São Francisco', parceria com Alfredo Português.

O cantor e compositor carioca Nelson Sargento morreu nesta quinta-feira (27/5), aos 96 anos (aniversário em 25 de julho), no Rio de Janeiro. Ele estava internado desde 20 de maio no Instituto Nacional do Câncer (Inca), onde tratava de um câncer na próstata desde 2005. Chegou ao hospital com desidratação e anorexia.

Em 26 de fevereiro, o sambista recebeu a segunda dose da vacina em casa. Usando a camisa do Vasco da Gama, cantou os versos de sua canção mais famosa: “Samba/ Agoniza mas não morre/ Alguém sempre te socorre/ Antes do suspiro derradeiro”.

Nelson deixa a mulher, Evonete Belizario Mattos. Além de tirar a vida do sambista, a COVID-19 impôs duros sacrifícios financeiros a ele, impedido de fazer shows.
Em junho do ano passado, o músico anunciou a venda seus ternos verde e rosa (inclusive o que usou quando a Mangueira venceu o carnaval, em 2016) e a coleção de 150 vinis. Sensibilizada, a crítica de arte Gloria Ferreira organizou leilão de arte virtual em benefício dele, com obras de Abraham Palatnik, Cildo Meireles, Laura Lima e Carlos Vergara, entre outros artistas.
BALUARTE
Modesto, Nelson minimizava o apelido “Filósofo do Samba” que lhe deram devido à sua inteligência e às belas letras que criou. “Não é filosofia, é só entender um pouco da vida na medida do possível, pois ninguém sabe de tudo. Quem sabe tudo é Deus”, afirmou ele ao jornal “O Estado de S. Paulo”, em 2009.~
Deus pode saber de tudo, mas a escola de Nelson foi das melhores: a cultura popular. Ao jornalista Francisco Quinteiro Pires, revelou um desejo: virar cientista para achar, trancado no laboratório, “os vírus da vergonha e da sinceridade para inocular os homens tão entregues ao desamor.” Vacina preciosa a do poeta, sobretudo nestes tempos de pandemia, negacionismo e mediocridade.
O baluarte da Mangueira – era presidente de honra da verde-rosa – estreou na Azul e Branco, antiga escola de samba do Salgueiro, morro carioca onde morava. A mãe, a empregada doméstica Rosa Maria, separou-se do pai dele, o cozinheiro José de Matos, e se mudou para a comunidade da Mangueira. Lá, o pintor de paredes português Alfredo Lourenço, ex-fadista em Lisboa, levava o menino para ensaios da escola.
“Meu primeiro contato com o samba foi aos 10 anos, no Salgueiro. Naquele tempo, nada era proibido para criança. E eu saí na escola Azul e Branco tocando tamborim”, contou. Mais tarde, já no território da verde-rosa, teve aulas de violão com Cartola, Nelson Cavaquinho e o mineiro Geraldo Pereira.
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