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Bolívia rechaça oferta de Bolsonaro de asilo político à golpista Jeanine Áñez

"Não vamos aceitar a ingerência do presidente brasileiro nas decisões soberanas que correspondem à justiça boliviana", disse a ministra da Presidência da Bolívia, María Nela Prada

Bolívia rechaça oferta de Bolsonaro de asilo político à golpista Jeanine Áñez

Áñez foi presidenta interina da Bolívia entre novembro de 2019 e outubro de 2020, assumindo o poder após a renúncia de Evo Morales e Álvaro García Linera, impulsionada pela pressão das Forças Armadas e de milícias armadas da direita, num episódio reconhecido como um golpe de Estado. 

María Nela Prada, ministra da Presidência da Bolívia, cargo correspondente à Chefe da Casa Civil, voltou a criticar Jair Bolsonaro pela oferta de asilo político à ex-presidenta golpista Jeanine Áñez.

“O que for possível eu farei para que ela venha para o Brasil caso assim o governo da Bolívia concorde. Estamos prontos para receber o asilo dela, como desses outros dois que foram condenados a dez anos de cadeia”, afirmou Bolsonaro durante live no domingo (26).

Em declarações à imprensa local, neste domingo (3), Prada disse que não aceita ingerência externa na política nacional boliviana.

“Como governo do povo não vamos aceitar a ingerência do presidente brasileiro nas decisões soberanas que correspondem à justiça boliviana. O senhor Bolsonaro ofereceu asilo a Áñez quando aqui buscamos que as pessoas cumpram a sentença que lhes corresponde no nosso país”, defendeu.

No dia 10 de junho, a ex-senadora Jeanine Áñez foi condenada a dez anos de prisão por autoproclamar-se presidenta, violando a Constituição, que determinava uma ordem hierárquica para o rito de sucessão através do Legislativo. Desde março de 2021, a ex-presidenta estava presa de maneira preventiva pelo caso “Golpe de Estado I”.

Antes de ser presa, Jeanine Áñez teria planejado fugir para o Brasil em um jato particular para evadir a justiça boliviana.

Áñez foi presidenta interina da Bolívia entre novembro de 2019 e outubro de 2020, assumindo o poder após a renúncia de Evo Morales e Álvaro García Linera, impulsionada pela pressão das Forças Armadas e de milícias armadas da direita, num episódio reconhecido como um golpe de Estado.

Outros ex-funcionários militares da gestão interina também foram condenados por incumprimento de deveres. Há denúncias do Ministério Público boliviano de que o ex-ministro de Defesa da gestão golpista, Fernando López, estaria foragido no Brasil. As autoridades brasileiras não confirmam a denúncia.

O ex-ministro de Governo, Arturo Murillo, também teria passado pelo território brasileiro até chegar aos Estados Unidos, onde foi preso por lavagem de dinheiro.

“Por que essas pessoas saem em defesa uma das outras? Não é um assunto de coincidência política antidemocrática, há interesses econômicos por detrás. Um contrato nefasto assinado pela YPFB [estatal boliviana] e Petrobrás durante o governo golpista. Acaba de encerrar o prazo da oitava emenda, assinada no dia 6 de março de 2020”, declarou.

Em abril deste ano, a Bolívia reduziu 30% do abastecimento de gás ao Brasil, preferindo exportar para a Argentina, que agora recebe 14 milhões de m³ de gás por dia do país vizinho. “Não se trata de um complô socialista, é uma questão de oportunidade comercial”, declarou o ministro boliviano de Energia e Hidrocarbonetos, Franklin Molina.

O preço pago pelos argentinos pela cota extra de gás foi de US$ 20 o milhão de BTU — ante os cerca de US$ 7 o milhão de BTU pagos pelo Brasil.

Atualmente a Petrobrás e a estatal boliviana YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos) vivem uma polêmica por um contrato assinado durante a gestão da ex-presidenta golpista Jeanine Áñez. Em oposição a um contrato anterior, o acordo assinado em 2020 previa que a YPFB pagasse pelo transporte de gás ao Brasil no lado boliviano do gasoduto Gasbol, gerando um custo adicional de cerca de US$ 70 milhões por ano aos cofres públicos bolivianos. Pelas divergências entre as duas estatais, hoje o Brasil recebe apenas 4 milhões de m³ diários, cerca de 10 milhões de m³ a menos do que o contratado.