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Jornal Le Monde diz que o Brasil é “fábrica da democracia” por resistir a golpe de Bolsonaro

Marcadas por duas décadas de ditadura e traumatizadas pelo mandato de Bolsonaro, as instituições parecem agora ter compreendido o tamanho das ameaças que pesam sobre sua jovem república, proclamada em 1989. Longe do silêncio e da conivência de várias capitais

Jornal Le Monde diz que o Brasil é “fábrica da democracia” por resistir a golpe de Bolsonaro

O jornal francês Le Monde publicou um artigo na última terça-feira (8) no qual classifica o Brasil como “fábrica da democracia” por resistir à tentativa de golpe de Estado planejada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados

O jornal francês Le Monde publicou um artigo na última terça-feira (8) no qual classifica o Brasil como “fábrica da democracia” por resistir à tentativa de golpe de Estado planejada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados, agora réus por golpismo. “O Brasil se tornou hoje um laboratório da luta em defesa da democracia”, destacou:

Vamos ser francos: o Brasil saiu dos radares. Parece distante o tempo em que o país ocupava naturalmente as manchetes dos jornais, para o bem, durante a década dourada (2003–2013) de crescimento econômico que começou com a chegada de Lula ao poder, e para o mal, durante a década negra (2014–2024), marcada por recessão histórica, escândalos de corrupção, o impeachment da presidente Dilma Rousseff e o mandato grotesco de Jair Bolsonaro. Num mundo brutal, os olhares agora se voltam para Washington, Gaza, Kiev, Istambul ou Damasco.

No entanto, seria um erro desviar os olhos do Brasil tão rapidamente. Não apenas por causa do peso demográfico e econômico desse gigante latino-americano ou da importância crucial da Amazônia na luta contra o aquecimento global, mas também – e sobretudo – porque suas recentes transformações políticas e judiciais têm muito a ensinar ao mundo, especialmente aos franceses, num momento em que a líder da Reunião Nacional, Marine Le Pen, foi condenada e cresce a influência da extrema-direita.

Desde 26 de março, Jair Bolsonaro está oficialmente sendo processado por tentativa de golpe de Estado. Acusado de ter tentado, no fim de 2022, ignorar os resultados da eleição presidencial, ele teria preparado a instauração de um estado de exceção e cogitado o assassinato de seu sucessor, Lula. Fatos de uma gravidade extraordinária, que devem ser julgados nos próximos meses e que podem lhe render até quarenta e três anos de prisão.

Mas, em sua ofensiva, a Justiça foi além dos chefes militares. Desde 2023, o Supremo Tribunal Federal condenou mais de 500 pessoas que participaram, em 8 de janeiro de 2023, da invasão e depredação das instituições em Brasília, ou que incitaram ou financiaram os atos. Acusados de tentar, naquele dia, semear o caos para forçar uma intervenção militar e deflagrar um golpe, muitos receberam penas de até dezessete anos de prisão. Pelo menos outros mil processos ainda devem ser julgados pelos magistrados. (…)
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Bolsonaristas invadem o Palácio do Planalto durante os atos terroristas em Brasília, em 8 de janeiro de 2023. Foto: Reprodução

Não são apenas os juízes que atuam. Garantidor da Constituição, o presidente Lula não hesitou em aumentar o tom contra Donald Trump, suspeito de interferência nas instituições democráticas brasileiras. O presidente americano “tenta se tornar o imperador do mundo!”, indignou-se Lula em 20 de fevereiro, em uma entrevista, apelando ao respeito mútuo entre os países: “Não adianta o Trump gritar comigo de lá [de Washington], eu aprendi a não me intimidar com gente de cara feia. Fale comigo com calma, fale comigo com respeito, porque eu aprendi a respeitar os outros e quero ser respeitado”, disse ele, sem meias palavras, em um discurso no dia 1º de março.

Marcadas por duas décadas de ditadura e traumatizadas pelo mandato de Bolsonaro, as instituições parecem agora ter compreendido o tamanho das ameaças que pesam sobre sua jovem república, proclamada em 1989. Longe do silêncio e da conivência de várias capitais europeias, Brasília decidiu falar diretamente com Donald Trump e responder com firmeza às tentativas golpistas de seus discípulos locais. (…)