Milhares de pessoas marcharam do Obelisco à Praça de Maio, em Buenos Aires, nesta sexta-feira (2) em repúdio à violência política no país. O dia foi declarado feriado nacional pelo presidente Alberto Fernández pela tentativa de assassinato à vice-presidenta Cristina Kirchner, em frente à sua casa, na noite de quinta-feira (1º).
O ato reuniu organizações e movimentos sociais e políticos e milhares de pessoas que, espontaneamente, se dirigiram ao centro de Buenos Aires em defesa da democracia. “Eu não sou peronista, mas estou aqui porque esse tipo de coisa não pode acontecer em plena democracia”, disse ao Brasil de Fato a professora Angelica Peñaloza, durante a concentração no Obelisco.
O brasileiro Fernando André Sabag Montiel, de 35 anos, é apontado pelas autoridades como o autor da tentativa de assassinato. Por suas tatuagens, há indícios para supor que Montiel siga ideologias neonazistas. De acordo com o jornal La Nación, a polícia encontrou cerca de 100 balas de arma de fogo no imóvel de quinze metros quadrados em que ele vivia no bairro de Villa Zagala, na capital argentina.
O incidente ocorre poucos dias após a promotoria pedir 12 anos de prisão para a vice-presidenta por supostos atos de corrupção durante os mandatos kichneristas, dela e de seu falecido marido, Nestor, como chefes do executivo, de 2007 a 2015. Cristina afirma se tratar de um caso de lawfare, a instrumentalização do judiciário contra adversários políticos.
Após a investida da promotoria, uma vigília se formou nas proximidades da casa de Cristina no bairro de Recoleta. O prefeito da cidade, Horacio Rodríguez Larreta, do Proposta Republicana (PRO), partido de oposição, decidiu enviar a polícia de Buenos Aires ao local para cercar as quadras ao redor do prédio com tapumes. Manifestantes tentaram retirar os tapumes e foram reprimidos pelas forças policiais.
https://twitter.com/i/status/1565762626805710850
O incidente de quinta em um dos bairros mais ricos da capital portenha, no entanto, gerou comoção entre setores da oposição. O deputado federal Ricardo López Murphy, da coalizão opositora Juntos Pela Mudança, afirmou na sua rede social no dia 29 de agosto: “são eles ou nós, é ordem ou caos”. Já após o atentado, Murphy disse “repudiar energicamente” o incidente.
“A princípio, à noite poderia ter sido iniciada uma guerra civil. Muito grave, muito grave… E hoje não sei como amanheceríamos e o que aconteceria com a política argentina realmente”, afirma o comerciante Gabriel Martín ao Brasil de Fato no ato por Cristina.
O comerciante ainda aponta que a campanha contra Cristina alimentou esse clima de violência: “acredito que foi um atentado provocado pelos meios hegemônicos, pelos fiscais que estão em oposição a ela, pelos juízes comprados, pela Corte macrista. E foi se colocando lenha na fogueira para chegar a acontecer o ocorrido de ontem.”
O deputado federal Leandro Santoro, da coalizão governista Frente de Todos, participou da manifestação e disse ao Brasil de Fato que a participação popular de massa transmite uma “mensagem de paz” e da construção de uma “convivência democrática”. Para Santoro, há uma naturalização do discursos extremistas: “Vimos que lamentavelmente nos Estados Unidos com Donald Trump e no Brasil com Bolsonaro começou-se a naturalizar um discurso de ódio, de agressividade, de preconceito, o racismo inclusive. É irracional, absolutamente irracional o que um setor da sociedade civil foi naturalizando”, destaca.
? Multitudinaria marcha a Plaza de Mayo tras el ataque a la vicepresidenta Cristina Kirchner pic.twitter.com/fYlVsgGdO8
— Agencia Télam (@AgenciaTelam) September 2, 2022