O centro da Zona Franca de Manaus ou, simplesmente, centro histórico, que um dia foram chamados de belle époque, ainda é uma opção interessante capaz de despertar as mais doces e curiosas imaginações.
O relógio municipal, localizado no Centro Histórico da cidade, mais precisamente na Avenida Eduardo Ribeiro, com sua engrenagem, importada da Suíça; o Palácio da Justiça, um dos principais exemplares da arquitetura clássica do período áureo da economia da borracha; o prédio da Alfândega, o primeiro pré-moldado de Manaus, construído em blocos de tijolos importados da Inglaterra e tantos outros continuam imponentes a encantar, sobretudo, por seu conjunto histórico arquitetônico.
Em meio a tanta beleza, entretanto, a incúria do Poder Público pode descortinar o horror social fortemente enraizado em meio ao esplendor de símbolos tão representativos da história do Amazonas.
Independentemente do insuportável mal odor produzido por exclusiva deficiência de banheiros públicos – quem não tem cão caça com gato -, o centro histórico de Manaus agora é reduto do Comando Vermelho (CV), uma das maiores organizações criminosas do Brasil com ramificações em vários estados do país.
Em cada pedaço de chão, bancos, monumentos, enfim… em todos os lugares da Praça dos Remédios, lá a marca da fação criminosa, CV, que pode ser encontrado, também, em postos e prédios públicos em todo o centro histórico.
E se na área tem Comando Vermelho, tem droga e muita – maconha, cocaína, crack, tiner, loló, K9 e muito mais.
O consumo é explicito.
Na praça, dezenas de pessoas se entorpecem dia e noite, a toda hora, a todo instante, a todo momento, moribundos, desprezados – um espetáculo dantesco de cortar o coração dos mais empedernidos.
O estado é totalmente ausente.
No local, nenhuma viatura policial, nenhum órgão especializado em assistência social a olhar com o mínimo de comiseração ao escárnio social espalhado na Praça dos Remédios, ocupada pelo crime comandado pelo CV.
A mão amiga da igreja, a caridade de algumas boas almas piedosas e o alento levado pelo projeto Ágape, infelizmente, não servem de remédio para a cura do problema. São apenas medidas paliativos, apesar de indispensáveis.
Logo, como descreve Chico Buarque de Holanda nos versos de “Pedro Pedreiro” ao pobre e desvalido só resta esperar. Até quando?
Esperando a sorte
Esperando a morte
Esperando o norte
Esperando o dia de esperar ninguém
Esperando enfim nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita
Do apito de um trem
Fotos/ Sérgio Fonseca