Em claro sinal de desconexão com a realidade do país, o presidente Jair Bolsonaro sinalizou hoje em sua participação no programa Pânico, da Jovem Pan que desconhece que a fome é um problema muito visível para as pessoas.
Ao ser questionado sobre os 30 milhões de brasileiros que estão abaixo da linha da pobreza, Jair colocou em dúvidas os dados: “Alguém vê alguém pedindo pão no caixa da padaria? Você não vê, pô. Até no interior… Tem gente que passa mal sim, quem porventura está na linha da pobreza, passando fome, que sim, deve ter gente que passa fome…” O candidato a reeleição prosseguiu: “Tá na eminência aqui da própria Caixa Econômica, junto com o Ministério da Cidadania. Tem um aplicativo para o cara se cadastrar no Auxílio Brasil, sem depender de favores aí de gente do município.”
Em um podcast voltado para o público de marombados, Bolsonaro repetiu o absurdo:
O Brasil havia deixado o chamado Mapa da Fome em 2014 com o sucesso do programa Bolsa Família. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), baseado em dados de 2001 a 2017, mostrou que, no decorrer de 15 anos, o programa reduziu a pobreza em 15% e a extrema pobreza em 25%. No entanto, o país voltou a a figurar na geopolítica da miséria no balanço a partir de 2020 e estima-se que haja cerca de 33 milhões de pessoas vivendo em “insegurança alimentar” (eufemismo para gente com fome).
A fala repercutiu muito mal e o nome de Maria Antonieta entrou para os Trending Topics do Twittter, o ranking de assuntos mais comentados da plataforma.
Reza a lenda que Maria Antonieta, Rainha da França em 1792, ao ver o povo francês revoltado nas ruas, buscou saber os motivos e ouviu que não havia pão, ao que ela respondeu com o conhecido “Que comam brioches”.
Não há evidências históricas de que isso tenha acontecido de fato e tampouco que tenha vindo dela a frase, mas ela ficou marcada na história como símbolo de ocaso de um regime.
A frase de Bolsonaro, dita um dia depois de seu principal opositor recordar durante a entrevista no Jornal Nacional que em seu governo os brasileiros tinham condições de fazer churrasco e tomar uma cervejinha nos fins de semana, carrega o mesmo simbolismo da frase atribuída à Maria Antonieta.
Talvez o povo não esteja nas ruas, pronto para uma revolução como na França de 1792, mas, como apontam as pesquisas, o eleitorado brasileiro pretende guilhotinar o atual regime nas urnas.