
Para Lula, trazer Boulos ao governo reenergiza a base histórica do petismo num momento em que parte do centrão ensaia desembarcar rumo à oposição.
Guilherme Boulos (PSOL-SP) confidenciou a aliados que toparia abrir mão de disputar a reeleição a deputado federal caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o convide para integrar o governo até o fim do mandato, em 2026. A principal motivação do líder do MTST é fortalecer o projeto de reeleição de Lula, mesmo reconhecendo que sua ausência não comprometeria as metas de bancada nem o acesso do PSOL ao fundo partidário.
O posto cogitado para Boulos é a Secretaria-Geral da Presidência, hoje ocupada por Márcio Macêdo. Lula sondou o psolista antes de embarcar para a China e deixou claro que não quer novos ministros que precisem desincompatibilizar-se às vésperas da eleição — requisito que tiraria Boulos da corrida eleitoral de 2026. Segundo interlocutores, o deputado concordou com a condição e aguarda apenas o sinal verde do presidente.
A reforma ministerial, entretanto, foi adiada por sucessivos tropeços, como as demissões de Juscelino Filho e Carlos Lupi. Lula também precisa acomodar cerca de 20 ministros dispostos a concorrer no próximo pleito, o que complica a dança das cadeiras no Planalto. Mesmo sem convite formal, Boulos mantém a disposição de sacrificar o mandato parlamentar para somar forças ao governo.
Se confirmado, o ingresso de Boulos ampliaria o diálogo do Planalto com movimentos populares e daria fôlego à presença do governo nas redes sociais, áreas em que o deputado se notabilizou. Nas municipais de São Paulo, Lula já demonstrou confiança no aliado ao articular a aliança PT-PSOL e colocar Marta Suplicy como vice; embora derrotado por Ricardo Nunes, o psolista consolidou-se como figura nacional da esquerda.
Durante a transição de 2022, Boulos já flertara com um ministério, mas recuou por estar pré-candidato à prefeitura paulistana. Agora, a conjuntura mudou: Gleisi Hoffmann, antes cotada para a Secretaria-Geral, deve assumir articulação política, abrindo espaço para o deputado. Para Lula, trazer Boulos ao governo reenergiza a base histórica do petismo num momento em que parte do centrão ensaia desembarcar rumo à oposição.
A estratégia mira 2026: com a ala à esquerda mobilizada internamente e ministros sem risco de abandono eleitoral, Lula espera chegar à campanha presidencial com estabilidade administrativa e discurso unificado. Caso aceite a missão, Boulos trocará o plenário da Câmara por uma sala no quarto andar do Palácio do Planalto — e terá dois anos para provar que a aposta valeu o sacrifício das urnas.