O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) publicou nesta quinta-feira (25) uma nota de repúdio em resposta a uma nota assinada pelo comandante da Marinha, o Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, que por sua vez se manifestou contra a inclusão do nome de João Cândido Felisberto, líder da Revolta da Chibata, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
A nota do almirante foi enviada à presidência da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados. A homenagem, proposta por Lindbergh, a João Cândido já foi aprovada no Senado e agora é debatida na Câmara.
Na nota, Olsen diz que homenagear João Cândido ou “qualquer outro participante daquela deplorável página da história nacional” passaria o recado aos militares de que é correto “recorrer às armas que lhes foram confiadas para reivindicar suposto direito individual ou de classe”.
A Revolta da Chibata, liderada por João Cândido, conhecido como “Almirante Negro”, consistiu em um movimento de rebelião de marinheiros contra as péssimas condições de trabalho e o uso de castigos físicos, como chibatadas, pelos oficiais da Marinha.
A revolta foi reprimida pelo governo, mas resultou na abolição dos castigos físicos na Marinha brasileira. Sobre as chibatadas, Olsen manifestou: “os castigos físicos levados a cabo nos navios, prática inaceitável, sob perspectiva alguma, e absolutamente incompatível com os caros preceitos morais observados pela sociedade contemporânea, foram reconhecidos, posteriormente, como equivocados e indignos, e os insurgentes, inclusive, anistiados. Porém, resta notável diferença entre reconhecer um erro e enaltecer um heroísmo infundado”.
Lindbergh Farias disse ser preciso “repudiar com veemência a nota da Marinha do Brasil contra a inclusão de João Cândido no Panteão dos Heróis Nacionais”. “É um absurdo que o almirante Olsen defina João Cândido como um mero ‘insurgente’ e classifique a revolta legítima da Chibata como ‘deplorável página da história nacional’.
“A homenagem tem não só o objetivo de valorizar nossas figuras negras históricas, de modo a promover uma reparação pelo triste capítulo da escravidão, mas também de trazer o legado do povo negro e o enfrentamento inadiável ao racismo institucional tão presente na sociedade. A inclusão de João Cândido no Panteão dos Heróis Nacionais é urgente e necessária e a nota da Marinha é inaceitável. Não vamos construir um país justo e verdadeiramente democrático fugindo das nossas trágicas injustiças e desigualdades. ‘Remoer o passado’ é necessário para corrigir o racismo estrutural ainda presente na nossa sociedade”, afirmou o deputado.