Ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) revela que busca se descolar de Jair Bolsonaro (PL) em seu plano de governo na disputa ao governo de São Paulo.
Em seu plano de governo para o estado, Bolsonaro não é citado em nenhuma das 43 páginas. Nem mesmo o termo presidente consta no programa do ex-ministro.
Em nota à Folha de S.Paulo, a assessoria do candidato minimiza a questão e diz que “Tarcísio é o candidato do presidente Bolsonaro em São Paulo e sua presença já constante será ainda maior durante o período de campanha”.
“Utilizar a ausência de menção direta ao nome do presidente em um plano de diretrizes de governo é mais uma tentativa desonesta e partidária de dissociar Tarcísio de Jair Bolsonaro”, diz o texto.
Traidor
Tarcísio tem sido tratado como “traidor” por bolsonaristas. Parte dos aliados do presidente acusa o ex-ministro de se descolar de Bolsonaro e se cacifar para presidente em 2026.
As críticas a ele nas hordas bolsonaristas têm aumentado cada vez mais com a proximidade das eleições e ele é tratado como ingrato, já que o presidente o indicou para o cargo. Seus detratores consideram que ele tenta se apresentar como independente. Eles acrescentam também que, nos bastidores, vão trabalhar pelo atual governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB).
Ele também é criticado por ter feito aliança com o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, que indicou o vice da chapa. Apesar de o partido em nível nacional não ter oficializado apoio a Lula, Kassab teve reuniões com o petista e é visto como um futuro aliado do PT.
Tarcísio, segundo eles, não tem se esforçado para defender a atual gestão federal e que ele marca distância das posições mais radicais do presidente, como por exemplo a defesa da vacina. Ele afirmou em maio, durante sabatina da Folha, que divergiu da postura antivacina do chefe do Executivo e que imunizou sua família contra a Covid-19.
No começo de junho, ele afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que tem um “perfil diferente” do de Bolsonaro e que não manteve “postura ideológica na condução do Ministério da Infraestrutura.”
Em outra ocasião, ele afirmou que a disputa presidencial entre Bolsonaro e Lula coloca frente a frente “dois titãs” da política brasileira.
Forasteiro
Na última semana, a Polícia Federal decretou sigilo sobre a investigação do domicílio eleitoral do pré-candidato bolsonarista ao governo de São Paulo.
A apuração foi pedida pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP), em julho, e o prazo de 30 dias venceu no sábado (7), sem que as conclusões fossem divulgadas.
O pedido de investigação foi feito pela Promotoria Eleitoral depois que representações, mencionando reportagem da Folha de S.Paulo, revelaram que Tarcísio não mora no apartamento que apontou à Justiça Eleitoral, no município de São José dos Campos (SP), que fica a 590 quilômetros da capital.
Além da confusão envolvendo o domicílio eleitoral de Tarcísio, ele declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um patrimônio de R$ 2,4 milhões. O mais estranho é que a parte mais valiosa do total é um apartamento em Brasília (DF), comprado por R$ 2,1 milhões em 2019.
Tarcísio de Freitas nasceu no Rio de Janeiro e morou na capital federal até janeiro de 2022, quando transferiu o domicílio eleitoral para São José dos Campos (SP), local onde também não mora.
A declarada mudança provocou ações protocoladas pelo PSOL e União Brasil.