Bolsonaro declarou uma grande quantidade de mentiras nos 40 minutos da sabatina do Jornal Nacional nesta segunda-feira (22). A entrevista, conduzida por William Bonner e Renata Vasconcellos, abriu a série de sabatinas com os candidatos à Presidência – Ciro Gomes, Lula e Simone Tebet serão os próximos entrevistados, na ordem.
Durante a sabatina, Bolsonaro mentiu sobre todos os temas perguntados. A primeira pergunta foi sobre as eleições e a urna eletrônica. Bolsonaro negou ter xingado ministros do STF. Precisou ser relembrado por William Bonner de que xingou Alexandre de Moraes de canalha. Antes disso, havia chamado Luis Roberto Barroso de “filho da puta”.
Jair Bolsonaro também falou em querer eleições limpas e transparentes, acreditando no processo eleitoral. Outra lorota, pois o presidente passou três anos e oito meses questionando a lisura da urna eletrônica.
William Bonner questionou Bolsonaro, dizendo que o sistema eleitoral “é uma das coisas das quais o brasileiro se orgulha” . Bolsonaro ainda replicou argumentando sobre uma auditoria feita pelo PSDB em 2014 – a verificação não provou a falta de segurança das urnas eletrônicas.
A pergunta seguinte foi sobre a pandemia e a falta de suprimento de oxigênio em Manaus, durante o pico de casos da covid em 2021.”Em menos de 48h, cilindros começaram a chegar em Manaus”, disse Bolsonaro.
O então governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), alertou o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello que a falta de cilindros de oxigênio em Manaus era grave no dia 6 de janeiro de 2021. O governo federal só agiu em 14 de janeiro, oito dias depois. Dias antes, em 11 de janeiro, Pazuello esteve em Manaus e defendeu o uso de cloroquina para tratar os pacientes.
Um dos momentos mais incisivos da entrevista foi quando Bolsonaro negou de forma contundente ter imitado pessoas com falta de ar no ápice da pandemia. Bonner repetiu a pergunta e Bolsonaro mentiu novamente, negando ter zombado de internados e vítimas da covid-19. A mentira fez com que vídeos com a imitação de Bolsonaro chegassem aos trending topics do Twitter durante a sabatina.
Também houve informação falsa quando Bolsonaro disse que o lockdown ajudou a infectar mais pessoas, conforme dados do governo do Estado de Nova York. Andrew Cuomo, governador de NY, afirmou que 84% de um grupo de 1.289 recém-internados evitavam sair de casa. Mas não se sabe como as pessoas foram infectadas. Além disso, o governador não usou os números da apresentação para negar a eficácia do distanciamento social, mas para que mesmo os isolados precisavam se precaver.
Ainda sobre o lockdown, Bolsonaro voltou a mentir dizendo que “até a OMS concordou comigo sobre o trabalho essencial”. Em nenhum momento, Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, defendeu o fim ou o relaxamento das medidas de restrição de atividades. Bolsonaro já repetiu essa mentira mais de 15 vezes.
Quando o assunto da sabatina se voltou para a articulação política, mais mentiras. Bolsonaro disse jamais ter aceitado pressão para escolher seus ministeriáveis. A bancada ruralista emplacou Tereza Cristina (PP-MS) na Agricultura e Ricardo Salles (PL-SP) no Meio Ambiente. Já a bancada evangélica colocou Damares Alves (Republicanos-DF) no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Para se aproximar do Centrão, Bolsonaro nomeou Fábio Faria (PP-RN) nas Comunicações, Ciro Nogueira (PP-PI) na Casa Civil e João Roma (PL-BA) na Cidadania.
Bolsonaro também mentiu sobre os dados da economia brasileira. “Tivemos um saldo de mais de três milhões de empregos no Brasil”, disse o presidente. Segundo os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgados pelo Ministério do Trabalho, foram geradas 2,7 milhões de vagas em 2021 e perdidos 192 mil postos em 2020. Assim, foram criados 2,5 milhões de empregos em seu governo.
Mas a mentira mais descarada talvez tenha ocorrido quando Bonner perguntou sobre o combate à corrupção. “Não há corrupção em meu governo” – Bolsonaro já repetiu essa afirmação 216 vezes em seu mandato.
Entretanto, em junho de 2022, a Polícia Federal prendeu o ex-ministro Milton Ribeiro por suposto envolvimento em um esquema de liberação de verbas do Ministério da Educação. Ribeiro é investigado por prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência.
O relatório da CPI da Covid-19 no Senado pediu o indiciamento de Bolsonaro e seis ministros por crimes como prevaricação, mau-uso de verbas públicas, falsificação de documento particular e charlatanismo. Ciro Nogueira (PP); Ricardo Salles (PL), Marcelo Álvaro Antônio (PL), e Fabio Wajngarten, são alguns dos ministros de Bolsonaro que foram ou são alvo de investigação.