O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre deste ano, divulgado nesta terça-feira (3/9) pelo IBGE, representou uma demonstração de força que não era esperada pelo mercado. O salto foi de 1,4% sobre o primeiro trimestre deste ano. Os analistas, contudo, estimavam um avanço de 0,9%.
Na avaliação do economista Márcio Holland, professor na Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EESP) e ex-secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda (2011-2014), a evolução do PIB contradiz a ideia de que a economia estaria “aterrissando rumo a crescimento abaixo de 2,5%, contra os 2,9% do ano passado”.
“O interessante é que, neste trimestre, o avanço ocorreu tanto pelo lado da demanda, com o consumo das famílias, do governo e de investimentos, como pelo lado da oferta, com os setores da indústria e de serviços”, diz Holland. “Ou seja, foi um crescimento disseminado pela economia.”
O professor da FGV observa que o PIB “segue firme”, movido, notadamente, por dois fatores. “Primeiro, como resultado do impulso fiscal com fortes gastos públicos, que “estão crescendo 10,5% em termos reais no primeiro semestre”. “Segundo, como resultado do aumento da massa salarial, que cresce em função das baixas taxas de desemprego (6,9%), e do aumento real de salários”, afirma.
Óbvio que essas são boas notícias, mas, para Holland, no contexto atual, podem ter uma consequência indigesta: um aumento dos juros. “Como a política fiscal deve seguir no campo expansionista, é possível que a economia continue a crescer mais nos próximos trimestres e isso vai jogar mais pressão sobre a inflação”, diz Holland.
Nesse cenário, destaca o economista, “tecnicamente, o Banco Central (BC) deveria iniciar um ciclo de aperto monetário, subindo a Selic em 0,25 ponto percentual já na reunião de setembro”. “Isso mesmo que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) reduza a sua taxa básica de juros, provavelmente, também em 0,25 ponto percentual”, diz. “A inflação está desacordada e a política fiscal deve seguir pressionando a demanda.”
Igor Cadilhac, economista do PicPay, observa que o desempenho do PIB reflete o “bom momento da atividade econômica brasileira, além de uma recuperação mais rápida do que o esperado das enchentes no Rio Grande do Sul”. “Do lado da oferta, com exceção da agropecuária, que recuou 2,3%, os demais setores apresentaram expansão”, diz. “Os serviços, que têm o maior peso na economia, foram impulsionados por todas as suas aberturas e cresceram 1%. A indústria, por sua vez, se beneficiou da recuperação no setor de transformação, avançando 1,8%, apesar do recuo de 4,4% na indústria extrativa.”
Para Cadilhac, do lado da demanda, os “sinais foram positivos, indicando a continuidade de um ambiente interno privado aquecido”. “Os investimentos cresceram 2,1%, e tanto o consumo das famílias quanto o consumo do governo avançaram 1,3%”, afirma. “Por outro lado, o setor externo foi o único a apresentar contribuição negativa, refletindo o aumento das importações (7,6%) e as menores exportações (1,4%).”
O economista acrescenta que, “olhando para o futuro, o mercado de trabalho mantém sua tendência positiva, permanecendo em pleno emprego, com uma composição saudável e sucessivos recordes”. “Os rendimentos têm crescido de forma disseminada entre os diversos setores da economia, fortalecendo a massa salarial e, consequentemente, impulsionando a demanda interna”, afirma. Ele, porém, também considera que os “riscos negativos” desse avanço “estão associados a um ciclo de juros elevados por mais tempo”. “Por ora, mantemos nossa projeção de crescimento de 2,5% para o PIB em 2024, mas o viés é altista”, diz Cadilhac.