A investigação da Polícia Federal sobre o plano de golpe articulado por Jair Bolsonaro encontrou diálogos nos quais o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, indicou a pressão de empresários para uma “virada de jogo” no resultado das eleições.
De acordo com Cid, os empresários participaram de uma reunião com Bolsonaro em 7 de novembro de 2022 para tratar do tema —na ocasião, Lula já havia vencido o segundo turno das eleições. Dentre eles estavam o fundador da Tecnisa, Meyer Nigri, e o dono da Havan, Luciano Hang.
“Na conversa que ele teve depois com os empresários, ele estava, tava o Hang, estava aquele cara da Centauro, estava o Meyer Nigri. É, estava o cara do Coco Bambu também, ele também. Tipo, quem falou, ó… O governo Lula. Vai, vai, vai, vai cair de podre, né? Pessoal ficou um pouco de moral baixo porque os empresários estavam querendo pressionar o presidente a pressionar o MD a fazer um relatório, né, contundente, duro né? Pra virar jogo, aqueles negócios”, Mauro Cid, em áudio obtido pela Polícia Federal
O áudio fazia parte de um diálogo entre Cid e o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes. O ex-ajudante de Ordens mantinha o general Freire Gomes informado das articulações golpistas discutidas no Palácio da Alvorada.
Cid não citou essa reunião com os empresários nos depoimentos de sua delação premiada assinada com a PF.
Esses empresários citados já haviam sido alvo de investigação por disseminarem mensagens golpistas em um grupo de WhatsApp antes das eleições.
De acordo com a PF, o diálogo de Mauro Cid “revelou que os empresários Meyer Nigri e Luciano Hang, investigados (…) pela prática de atos antidemocráticos, com disseminação de notícias falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro, teriam reiterado a prática de condutas ilícitas, instigando o então presidente para que o Ministério da Defesa fizesse um relatório mais duro, contundente com o objetivo de ‘virar o jogo'”.
Essa reunião ocorreu dias antes de um encontro no qual o ex-assessor Filipe Martins levou um jurista para apresentar a Bolsonaro uma minuta de decreto golpista. De acordo com as informações levantadas pela PF, essa reunião ocorreu em 19 de novembro de 2022. Depois, em 7 de dezembro de 2022, Bolsonaro apresentou aos comandantes das Forças Armadas a minuta do decreto golpista, conforme informações apuradas pela Polícia Federal.
A defesa de Hang afirmou, em nota, que o empresário “jamais sugeriu ou pediu a quem quer que fosse a adoção de medida destinada a atentar contra o ordenamento jurídico e as instituições democráticas”. Citou ainda que no dia seguinte às eleições o empresário se manifestou publicamente apoiando o resultado das urnas.