Na denúncia apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) que baseou a prisão da cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal, a Procuradoria-Geral da República (PGR) cita trocas de mensagens, áudios e vídeos entre os alvos com teor golpista e que se fundamentavam em “teorias conspiratórias” para impedir a posse do presidente Lula (PT). Segundo a PGR, isso acabou “gerando um clima social de polarização político-ideológica e de desconfiança nas instituições republicanas”, informa o jornal O Globo.
A primeira mensagem citada pela PGR foi enviada por Klepter Gonçalves (atual comandante-geral da PMDF) a Fabio Vieira (comandante-geral da PMDF no dia 8 de janeiro), em 28 de outubro de 2022 – dois dias antes do segundo turno das eleições.
“Rapaz, vocês tem que entender o seguinte: o Bolsonaro, ele está preparado com o Exército, com as Forças Especi… As Forças Armadas, aí, para fazer a mesma coisa que aconteceu em 64. O povo vai pras rua, que ninguém vai aceitar o Lula ser… Ganhar a Presidência, porque não tem sentido, o povo vai pedir a intervenção e, aí, meu amigo, eles vão nos livrar do comunismo novamente”, diz a transcrição do vídeo, que foi compartilhado por Fabio Vieira com o coronel Marcelo Casimiro Rodrigues, então Comandante do 1º Comando de Policiamento Regional. Ele é responsável por cuidar da área da Esplanada dos Ministérios e Praça dos Três Poderes.
Em 1 de novembro, já depois da vitória de Lula, Casimiro enviou uma imagem que continha três possibilidades para a sucessão presidencial: “artigo 142”, “intervenção federal” ou “intervenção militar”. “Não se procede esse entendimento, mas é interessante a explicação”, ele comentou.
No dia 2 do mesmo mês, com os bolsonaristas começando a se concentrar em frente ao quartel do Exército em Brasília, Jorge Eduardo Barreto Naime, então chefe do Departamento de Operações (DOP) da PMDF, disse a outro policial que a PM não deveria dar apoio ao Exército. “Deixa os melancia (sic) se virar”. “‘Melancia’ é um termo utilizado por bolsonaristas para se referir de forma pejorativa a militares que, como a fruta, seriam verdes por fora, em referência à farda, mas vermelhos por dentro, em referência a uma suposta filiação a ideais de esquerda”, explica a reportagem.
Em comunicação subsequente, o Major Flávio Alencar, responsável pelo comando de uma das unidades durante as incursões aos edifícios dos Três Poderes, abordou as reclamações de políticos a respeito dos protestos violentos durante a cerimônia de diplomação do presidente Lula, ocorrida em dezembro de 2022. “Na primeira manifestação, é só deixar invadir o Congresso”, escreveu.